"Não
farás para ti"
Por
Manoel Canuto
Algumas igrejas
estão promovendo concertos de música sacra com propósitos culturais. Mas o que
a Palavra de Deus afirma e relata com respeito à apresentação de corais e
músicas – cantores de hinos sacros de louvor a Deus – pelos levitas cantores é
que cantavam unicamente para adorar a Deus no contexto de culto (1 Cr 6.31;
15.21-22; II Cr 23.18; II Cr 5.12; Ne 12.46). Não se vê em nenhum lugar das
Escrituras algum concerto ou apresentação de hinos e corais para deleite
cultural ou entretenimento e recebendo aplausos.
Michael Horton,
em seu livro O Cristão e a Cultura (da Editora Cultura Cristã e
que recomendo), afirma que o cristão pode participar e fazer cultura mesmo não
sacra, sem que isso seja pecado. Ele diz que deve-se manter a distinção
entre o que é ‘secular’ e o que é ‘sagrado’. Na verdade a Reforma não
rejeitou tal distinção, mas rejeitou a hierarquia ligada a ela, como se uma
fosse mais importante ou mais espiritualmente aceitável a Deus do que a outra.
Não podemos negar que no culto judaico havia aquilo que era separado por Deus e
santificado e o que era comum (louças, panelas, vasos). Os vasos do templo eram
sagrados, mas os de casa eram comuns. Hoje muitos pensam que tudo é santo. É
verdade que Deus está envolvido na totalidade da vida e não se limita ao
religioso. Ou seja, Deus está tão envolvido com a criação quanto com a redenção;
Ele está interessado tanto no comum quanto no sagrado. Isso é verdade. Mas,
enquanto o propósito da Igreja é adorar a Deus conforme Ele ordenou, e levar o
Evangelho às nações e o mundo possa ser visto como o "teatro da glória de
Deus", como disse Calvino, este mundo jamais poderá ser meio de redenção.
A cultura e a arte popular não podem redimir.
Vendo assim, os
artistas da época da Reforma criaram obras que servissem tanto ao reino de Deus
quanto à cultura secular, sem confundir os dois. Os artistas na Reforma
estranhariam a expressão hoje tão usada: "Este é um artista cristão."
Mas não estranhariam a expressão: "Este é um cristão que produz
arte." Abraão Kuyper observou que, conquanto a fé bíblica possa inspirar a
grande arte, o casamento da religião com a arte acaba destruindo a ambos.
É verdade que os
reformadores negaram o dualismo neoplatônico entre espírito e matéria, mas eles
fizeram distinção entre "coisas celestiais e coisas terrestres", pois
isso é bíblico.
Quando se pensa
não haver distinção entre usos seculares e sagrados, quase que acabamos com a
tradição da musica da igreja e ao mesmo tempo criamos um estilo de música
popular que não é realmente secular e nem é verdadeiramente sagrada. Então,
tudo termina em pobre arte e má teologia.
Os reformadores
insistiam que, já que fomos criados neste mundo, chamados para este mundo e
redimidos deste mundo, não deveríamos deixar pendurada nossa fé no armário
quando saíssemos para o trabalho; mas eles distinguiam a Igreja do mundo.
Não há nada
errado sobre apreciar um concerto secular por simples prazer e admiração do que
é belo. Isso é perfeitamente lícito. Mas temos de ser críticos e analíticos ao
máximo quanto à música sacra. Por que? Porque ela não foi feita
simplesmente para nosso entretenimento: ela foi feita para adorar a Deus!
Não foi feita para apresentação cultural em concertos. Não é para agradar e
deleitar as pessoas, mas para louvar a Deus. Não foi feita nem mesmo para
evangelizar. Esta preocupação que envolve a pureza do culto está no segundo
mandamento: a falta de reverência. Nosso culto e também a música sacra devem
passar pelo crivo da integridade teológica. A música sacra não é para deleite
dos homens, para receber ovação, nem para enriquecer culturalmente a ninguém,
como muitos propõem. Sei contudo que é uma influência da época em que vivemos e
não nos apercebemos.
Bach e Händel
fizeram peças seculares e sagradas e não confundiram as duas. Mas agora, para
nossa tristeza, existe um estilo que nem é sagrado nem é secular, mas uma fusão
de ambos. Não está certo; pode funcionar e trazer deleite e aplauso, mas não
está certo.
Assim, quando
promovemos concertos sacros para entreter e educar culturalmente, perdemos de
vista o que é a adoração, quebramos o mandamento do Senhor com respeito ao
culto; usamos o nome de Deus em vão e levamos à nossa geração uma visão
irreverente e distorcida do que é louvar a Deus.
Unir
"levitas" com "gentios", quando se reúne crentes com
descrentes para apresentação musical é um ajuntamento condenável pelas
Escrituras. Muitos diriam que se trata de cultura. Mas esta é uma união que não
é vista nas Escrituras.
Creio que não é
uma sábia iniciativa por mais bem intencionada que seja. Nossos filhos serão
levados a ver e aprender o que não deveriam. Com isso, teremos uma Igreja
"segundo o mundo". Esta é uma simples advertência, mas de
importância, creio eu. Uma boa pergunta a nos ajudar seria: "Deus se
agrada disso?" Teríamos três respostas: (a) "Sim, muito se agrada,
aprova e exige"; (b) "Deus é neutro neste caso" e (c) "Não,
Deus não concorda em se usar cantos sacros de louvor (que só a Ele são devidos)
para entreter e edificar culturalmente as pessoas". Acho que a última
resposta é a que deve ser considerada.
"Não farás
para ti...", diz o Senhor (Ex 20.4).
_______________________________
Texto
retirado da Revista Os Puritanos,
Edição de
OUTUBRO/NOVEMBRO/DEZEMBRO de 1999.
Fonte:http://solascriptura-tt.org/LiturgiaMusicaLouvorCulto/index.htm
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